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A Dança dos Gigantes


Há algo curioso na forma como os gigantes dançam.


Europa, China e Estados Unidos, cada um ao seu ritmo, numa coreografia que, aos nossos olhos, parece tanto fascinante quanto desconcertante.

A Europa, essa velha senhora que insiste em vestir-se com as roupas da juventude, como guardiã da moda, tenta acompanhar os passos acelerados dos seus parceiros de pista. Carrega consigo uma história rica, amores e desamores, alianças e rupturas. Mas, ultimamente, parece tropeçar nos próprios pés, hesitando entre o passado glorioso e um futuro incerto. As nações discutem como família ao jantar de domingo, onde todos falam alto mas ninguém se escuta. O velho continente enfrenta dilemas que vão desde a migração até à identidade coletiva, num mundo que já não espera por ela. Quer ser lider nas questões humanitárias e ecológicas, por talvez achar que tem esse papel, por ser

A mais civilizada, mas deixa-se inocentemente ultrapassar nas outras frentes.

Dá quase a sensação de que a Europa agora só serve para os turistas aprenderem História e ainda molharem os pés.


A China, por outro lado, desperta como um dragão que esteve adormecido durante séculos. Com os olhos postos no horizonte, avança decidida, desenhando a sua própria Rota da Seda indústrial e digital. Investimentos aqui, infraestruturas acolá, que se constroem em tempos record, estende os tentáculos económicos pelo globo, num abraço que é tanto acolhedor quanto apertado. Há uma confiança quase desafiante na forma como encara o futuro, alheia às críticas externas sobre direitos humanos ou democracia. Para a China, a harmonia é um conceito interno, e o progresso é medido em arranha-céus que tocam as nuvens e caminhos-de-ferro que cortam desertos.


E os Estados Unidos? Ah, os Estados Unidos. O eterno adolescente rebelde que pensa saber tudo. Dividido internamente, mas sempre com uma opinião formada sobre o mundo alheio. Mundo esse que, não raramente, desconhece o nome ou localização geográfica. Lugar de oportunidade, onde tudo, e pelo que está à vista, mesmo tudo pode acontecer. Alterna entre o isolamento e a intervenção, num jogo de xadrez onde às vezes parece mover peças ao acaso. A tecnologia é o seu trunfo, mas também o seu calcanhar de Aquiles. A liberdade de expressão, sagrada, torna-se por vezes um megafone para a desinformação, que ecoa no resto do mundo. No entanto, há uma resiliência inegável no espírito americano, uma capacidade de reinvenção que já o tirou de enrascadas antes.

Enquanto isso, nós, humildes espectadores desta dança global, perguntamo-nos qual será o próximo passo. O mundo já não é bipolar, nem tão pouco multipolar. É acéfalo, um emaranhado de interesses e ideais que se cruzam e colidem. Talvez o segredo esteja em encontrar um novo ritmo, uma melodia comum que permita a estes gigantes dançarem sem pisarem os pés uns dos outros.


No meio deste turbilhão, resta-nos aquela esperança teimosa de que, apesar das diferenças e descompassos, haja espaço para a harmonia. Porque, no final das contas, todos partilhamos o mesmo palco, e a música que tocamos determinará não só o nosso futuro, mas o de todos que virão depois de nós.


Yorumlar


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