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Tecnologia e Desumanização: Uma reflexão obrigatória



Um jantar fora costumava ser um acontecimento. Do dia, do mês e, para algumas pessoas, até do ano. Era uma oportunidade de, enquanto se enchia o estômago, apreciar ambientes e experiências.

Um casal, numa mesa de restaurante, enquanto espera, está frente a frente. Só que não um com o outro. Frente a frente com um mundo que não está ali e, quem sabe, nem existe. De repente, chega o empregado de mesa e tem de fazer algum esforço para ser notado. Esta imagem é familiar a alguém?

Uma família inteira podia ser diferente. Mas não é. Fazem num restaurante a mesmíssima coisa que fariam em casa. Olham para o telemóvel e para as redes sociais. No fim, fazem questão de mostrar que estiveram num restaurante a ter uma experiência que, afinal, nem aconteceu.

 A crescente evolução tecnológica tem vindo a transformar o mundo. O surgimento da internet, depois dos smartphones e agora com a inteligência artificial, trazem promessas de melhoria. Seja na rapidez na resolução de tarefas, seja na qualidade das experiências audiovisuais e até na qualidade de vida. Olh’ó Robô… é pró menino e prá menina...No entanto, enquanto nos ajuda e conecta uns aos outros, seja em que parte do planeta for, também nos afasta e vem com um lado obscuro, de desumanização das relações interpessoais, reduzindo a profundidade das relações. A Universidade de Stanford mostrou que longos períodos em redes sociais reduz a capacidade de reconhecer emoções no rosto de outra pessoa.

Com cerca de 4,6 Biliões de pessoas ligadas à internet em 2023, paradoxalmente, nunca estivemos tão afastados. As taxas de solidão e isolamento social têm aumentado. Segundo um estudo da CIGNA em 2021, 61% dos adultos dos EUA dizem sentir-se solitários, o que representa um grande aumento comparando a anos anteriores. As redes sociais, que deveriam ser para aproximar pessoas, está afinal a afastá-las porque são geridas por algoritmos. Temos amigos sugeridos por eles. Não é por termos mil amigos pelo mundo, que nos sentimos mais acompanhados.  A empatia, está a ser substituída por interações digitais.  Afinal, o Sr. Robot não é empático. Outros exemplos disso, são os assistentes virtuais em quase tudo o que é aparelho. A Siri afinal não é filha única. Tem irmãs e irmãos de todos os estilos e especialistas em quase tudo. São eles que atendem os clientes e encaminham chamadas. Tratam-nos pelo primeiro nome e perguntam como estamos, mas é frio. Se fosse um humano, diríamos que era um sonso. Como é um programa, perdoamos.

As conversas com Assistentes Virtuais, moldados por algoritmos, eliminam as conversas humanizadas e promovem a polarização em vez de um diálogo construtivo, porque nos dão sempre respostas de bases de dados, nem sempre fidedignas e com quem seria inútil debater.

A automação no trabalho é mais um fator de desumanização e apesar de todos os benefícios económicos anunciados, até 2030, cerca de 20 milhões de postos de trabalho na indústria serão substituídos por robôs. Ainda que se estime que o rendimento obtido pela mão-de-obra autómata vá permitir pagar um rendimento mínimo de subsistência a toda a gente, não devemos esquecer que o trabalho não é apenas um meio de sustento, mas também de propósito e interação. A perda dessas oportunidades, pode conduzir a alienação social e a crises de identidade.

Poderá o leitor ou leitora, estar neste momento a julgar-me um opositor à revolução tecnológica, o Velho do Restelo desta epopeia, mas nada mais errado, Sou um utilizador frequente de todas as tecnologias que referi e ainda mais algumas e um ávido curioso de tudo o que está para vir. Mas também sou defensor de um crescimento e de uma evolução pensada e refletida. Devemos, como mais velhos, trazer à discussão estes temas e é essa a razão desta crónica.

Além disso, devemos, mais do que nunca, enfatizar as nossas boas características humanas. Sermos cada vez mais empáticos, sorrir mais, Olharmos e sermos bons profissionais seja em que tarefa for. Ainda mais, onde a emoção for parte da equação. E ser felizes, coisa impossível para AIs.

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