A Passagem dos Anos
- José A. Pereira
- 3 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 9 de jul. de 2024

Esta história começa sentado na cadeira do barbeiro. Vejo como a máquina vai passando, e constato que os cabelos que ficam são mais brancos que os que estão estendidos no chão. Já para não falar de cada vez tenho menos cabelo. Embora não me divirta, dá-me um bom argumento para pedir um desconto ao barbeiro - Cada vez cortas menos! Também, com o espelho em frente, vejo a pele menos elástica, com alguns sulcos mais fundos no rosto, e como me assemelho mais ao meu querido pai quando tinha uns 50 anos.
Isto pode mexer connosco emocionalmente. Mas devemos ter a plena consciência de que a vida é mesmo assim. Devemos aceitar estas mudanças, não com resignação, mas com a satisfação de ter conseguido mais uma etapa das nossas vidas. Sim, pode parecer-nos um pouco chocante ver a nossa decrepitude ao espelho. Mas devemos aceitar esta metamorfose com um semblante positivo. Aceitar com dignidade a passagem dos anos. Aceitar aquilo que não podemos alterar. E que muitas vezes é um absurdo lutar contra isso. Basta só ver quantos famosos fizeram cirurgias plásticas que correram de uma forma horrenda.
Acredito que aos poucos vamos a deixar de fazer algumas coisas. Eu vou deixar de subir às árvores tal como fazia quando era criança, de ver as coisas tão nitidamente, e o silêncio se irá apoderar da minha audição. Mas será gradual e aprenderei a viver com isso. Contudo, é bom recordar que percorrer este caminho não implica atirar a toalha ao chão e desistir da vida. Não, de nenhuma maneira!
Devemos manter-nos jovens de corpo, mente e alma. Podemos manter a nossa plenitude física, e até conseguir novos objetivos a nível desportivo. Conseguir um bom peso, uns níveis de colesterol baixos, e desfrutar de uma alimentação saudável. Muito melhor de que quando éramos jovens. Podemos também aprender novas habilidades, um novo idioma, dedicar-nos inteiramente às artes. Devemos viajar para conhecer novos lugares, e diferentes maneiras de ver o mundo. E não esqueçam o espírito. Estudem-se a si próprios. Descubram novos amigos. Aprendam a viver sozinhos, mas nunca fiquem sós. Descubram a paz interior, mesmo que seja apenas olhando para uma pedra ou o esvoaçar de uma borboleta. Desfruta do caminho e sê feliz enquanto envelheces. Eu vou tentar fazer o mesmo.
Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento para envelhecer. Millôr Fernandes